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quinta-feira

Entre a Paixão e o Amor. (Texto de Antônio Roberto Soares)

Entre a Paixão e o Amor

A paixão é um sentimento parecido com o amor, mas não é amor.

É um envolvimento excessivo na relação amorosa.

O que caracteriza a paixão é basicamente a perda da própria identidade.

Ou seja, eu entrego o meu coração totalmente ao outro e perco a minha individualidade.

Na verdade, a paixão é um certo enlouquecimento.

Todos nós temos uma "ferida", que é o medo do abandono e por isso temos a necessidade de nos apegar a alguém.

Tudo isso é aprendido pela nossa cultura e é uma forma de loucura.

Quando a pessoa está apaixonada, perde a identidade.

Ela já não respira sem o outro, não se alimenta direito sem o outro, pensa nele o tempo todo.

Torna-se quase uma obsessão contínua.

Apesar da paixão ter sido muito enaltecida pelos poetas, ela é considerada uma forma mais branda de enlouquecimento.

A paixão vem do latim patere, que significa sofrer.

Por isso é que há tanto sofrimento no relacionamento apaixonado.

Por outro lado, a paixão indica um desejo de amor e podemos transformar a paixão em amor.

Quando você recupera sua identidade e consegue transformar a paixão em algo mais calmo, começa a ter o seu próprio espaço e tempo.

Quando você consegue um certo distanciamento do outro, a paixão pode se tornar amor.

Como fazer isso?

Devolvendo a auto-estima.

Gostando mais de você mesmo.

Assim, o amor ao outro é um transbordamento do seu próprio amor.

E o amor é que nos sara da loucura.

Como diz Guimarães Rosa, "qualquer amor, por menor que seja, é um descaso na nossa loucura".

As pessoas com baixa auto-estima, normalmente se apaixonam mais facilmente pelo outro.

São as pessoas que têm mais medo de serem abandonadas, que têm muita necessidade de serem amadas.

É uma carência de afeto.

Elas têm que preencher o vazio delas.

Por isso mesmo, a paixão é sempre prejudicial.

Como a paixão ocorre a partir de nossas carências e da falta de amor próprio, ela mantém uma relação direta com a história de nossos abandonos ou carências infantis, pela ausência de amor dos pais.

A paixão é mais comum na adolescência, mas pode ocorrer em qualquer idade.

A paixão como caminho para o amor é até natural que ocorra como pretexto para aprendermos a amar.

O que não podemos é ficar infantilmente instalados numa ânsia de sermos amados, sem nos curar da paixão.

E a cura vem do amar a si mesmo, dos exercícios para elevar a auto-estima, que pode ser recuperada através do resgate da individualidade.

Cada um de nós é absolutamente único, é uma possibilidade no mundo.

Cada um tem o seu destino a ser traçado, o seu próprio caminho.

É responsável pelo desenvolvimento e auto-realização.

É a partir daí que eu encontro com o outro e vou construir junto dele.

Eu quero o outro não para me preencher, me fazer feliz.

A cura da paixão se situa num trabalho psicológico em que eu existo cada vez mais como eu.

Na verdade, a cura para a paixão é o verdadeiro amor.

O amor é crescimento, é libertação e não posse, domínio, controle.

Distinguir a paixão do amor é fundamental para esquecermos o que séculos nos ensinaram como, por exemplo, em Romeu e Julieta, a morrermos para provar o amor.

Só assim não acharemos natural misturar a dor e o amor.

(Texto de Antônio Roberto Soares)

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